Anjos de carne

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A vós, pregados pés por não deixar-me,
A vós, sangue vertido, para ungir-me, 
A vós, cabeça baixa, p’ra chamar-me.
A vós, lado patente, quero unir-me,
A vós, cravos preciosos, quero atar-me
Para ficar unido, atado e firme.
                        (Gregório de Matos)


Promessas e os dedos se enrolam em fitas
Sua água e pão são turvos
Em uma agonia infinita
De longe se escuta o absurdo
Esperança que o divino se materialize
Que o vil desejo se realize
Os anjos caídos choram
E na fúria se embalam
Mãos lívidas de pranto e dúvida
Esperando por um sopro de vida
Mas estão tão distantes
São perdidos e errantes
Vagando sob um sol morno
Invadindo nossas casas
Apagando o brilho e o contorno
Com o pesar de suas palavras
Nos tratando como objetos
Sonâmbulos acreditam estarem despertos
Com certa força profanam o que é certo
Os anjos de carne e suas preces 
Escória de fúria que o mundo estremece
E nos empurra para o abismo
O abismo do pecado
Onde mais uma vez o sagrado
Muda de lado e usa uma outra veste



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