Sob o olhar do sol
Designaste ao teu afã
Pintar de ouro os olhos da manhã

Onde a névoa baça se descama
Em desalinho
Como o calor lacerante de uma chama

Protegida entre guardiões
Respira e contempla tua sina
Canta pela última vez tuas canções

Feita a fumaça mágica do incenso
O mais sublime e delicado momento

Ver do céu a noite majestosamente se retirar
Genuína deixa o calor a consumir
E no infinito sumir para deixar o sol brilhar



Na senzala da minha própria alma
Escuto os meus gritos no portão
Sibilante tento encontrar
Este motivo incongruente

As marcas me fizeram dormir
E alinhou
O que a chuva não curou
O que o vento esqueceu

A ventura de viver
De fato
Nunca me encheu os olhos

Mesmo assim vivo?

Queria ter tempo
Mesmo sem saber
Quanto tempo falta
Por que devo crer?


Quem disse que poesia
Precisa de métrica?
É que não sabe a larica
Que feito crack traga o poeta

Em perfeito léxico
Sou algemado
E levo um soco na testa

Feito uma puta que apaga meu cigarro
Aceito com desdém a regra

Dilaçerado
Te digo desaforos
Vendo meus restos
E sou apedrejado

Pedra! Pedra! Pedra!

Afogo meu vício
Sou só pele e osso
E refém das atrozes
Hipérboles do estilo

Sou poeta, usuário ou apenas trafico?








Fazer da mão extensão
Sem mais dizer que não
e sempre ofertar

Deixar a abnegação
Purificar o coração
E nunca envenenar

No mar do silêncio velejo
Para dissipar tudo que vejo
E o desejo abandonar

O desengano do almejo
Não mais esquento ou pelejo
Agora sei esperar



"E roda a melancolia, seu interminável fuso!"
                                   (Cecília Meireles)

Desce lua cheia de pranto
Seu encanto não acalma
De tristeza bordou meu manto
Que pouco tanto cobriu minh'alma

Lua nua que flutua
Ao qual ondula o meu olhar
De uma luz escusa, morna, crua
Metade treva, metade amar

Em tuas cismas me fizeste temporal
Seu desnude é feitiço do céu
Lua, será que já fostes amada?

Tua luz não mais me seduz de solstício teatral
Desenganado de ti arranco-lhe o véu
Lua nefasta, de ti não quero mais nada