Salve, esperança!
você voltou irrequieta, saltitante,
Quando eu não tinha mais crença.
Vivia a dor resignada que toda saudade traz
Salve, felicidade!
Você ainda não voltou
Está distante, hesitante,
Mas quero-o de verdade
E sei que chegará o instante
Em que você enfim, substituirá essa dor
Salve, coração!
Você também se faz presente
Nesse momento marcante,
Saboreando intensamente a emoção
Que toda minha alma sente
Sua atitude chega a ser sufocante
Salve, amor!
Você é o verdadeiro herói.
Bravo guerreiro, vencendo tempestades
E mesmo se queixando que dói,
Não abandonou a guerra.
Mesmo sabendo tudo perdido
Não quis deixar de lutar
Ganhando mais uma batalha
Em prol da felicidade.
Salve, vida!
Pródiga e dolorida.
Volta afinal, com força e decidida
A curar minha ferida
E tirar os meus sonhos desse horrível lamaçal.

Graça Teixeira 


Desperta,
é o beijo do sol que chama.
É a manhã lá fora que canta,
veja o sol  lá fora a brilhar,
com a luz que rouba do teu olhar.

Levanta,vem vamos brincar!
Sob esses raios que nos aquecem,
conforto e aconchego brotam dos teus braços a me envolver,
do teu sorriso a me enfeitiçar.

Mas...

Eu que sou criatura soturna,
o céu;as coisas tão claras me noturnam.
O sol me cega,regresso então à escuridão.
Sem medo,
pois o escuro sou eu,
o negror é o que conheço,
as Trevas com louvor saúdo,Oh noite
três vezes majestosa.

Na claridão,
vão-se as ilusões.
Tudo posso ver,
estas velhas cicatrizes só a Lua pode esconder,
e na luz pálida dos lampiões,a sombra vai florescer.
Somente em teus devaneios posso me resguardar,
para um dia sob tu meu Sol,poder das quimeras
despertar.

                                Ana Ferreira



Roubaram minha glória
Roubaram minha jurisdição
Roubaram minha prudência
Roubaram minha métrica.

Minhas alegrias e tristezas
Meu cansaço e meu ópio
Minha dança, meu coração
 Minhas rimas, meus versos.

Roubaram minha decência
Roubaram meu desamor
Roubaram minha quietude
Roubaram meu compasso.

Meu dialeto estrangeiro
Meu direito ao sofrer
Minhas visões de bruxo
Minhas belas redondilhas.

Roubaram meu bom gosto
Roubaram meu mau gosto
Roubaram minha terra e minha palmeira
Roubaram meu sabiá.

No lugar, deixaram um corpo nú
Que pulsa, que ri, que escarra em mim
Que sente, que tem esperança...
No lugar, deixaram o amor.


 Rosivan dos Santos


Uma faísca cinza cintilante
Brilhando distante
Algo mais que um sussurro
Você ascende o escuro do meu coração

Presos vivemos em círculos
Que mais parecem quadrados
Caímos em riscos, nadamos em vícios
Um ao outro estamos fadados

Queimamos todas as pontes
Ignoramos qualquer possibilidade
Como tocar o horizonte
Quando é tudo ilusão e vaidade

O céu plúmbeo se esboroa lento
De alarde deturpamos a verdade
Petrificamos nossos corações em cimento
Por medo nos tornamos dois covardes






Com sangue ainda nas mãos o médico disse
 Seu marido havia morrido
Que notícia mais triste
Ela esboçou um leve sorriso

No dia anterior
Descobriu seu maior pavor
Ele a traiu com a vizinha
Durante horas ficou a matutar sozinha

Quando ele chegou
Se deparou com ela na cozinha
Ela o chamou:
 -Amor, pensei que não mais vinha!

Ele contou que sentiu falta dela o dia todo
Ela com ternura o beijou na testa
Foi quando tirou uma caixinha do bolso
Brincos de ouro e ela fez grande festa

Durante a madrugada ela levantou
Pegou o machado embaixo da cama
Antes do primeiro golpe ele acordou
-Amor, promete que me ama?

O sangue escorria feito lama
Ao meio ele estava a se abrir
Ela foi até o rio e jogou a arma
E ao lado dele voltou a dormir

No velório com agulhas os pés dele furou
Sem remorso ou coração partido 
Dois anos antes ela também havia o traído
Com a cunhada treze vezes gozou