Ela vem em noites tenebrosas
De umbrais esquecidos
Petrificando rosas
No rebento de ventos antigos

Traz pesar em seu dorso
Um clangor envenenado
Para recuperar o velo de ouro
E costurar seu condão devastado

Carrega no olhar a vingança de Medeia
Congelando tudo por onde cruza, Medusa
É a essência primal das musas
O pavor universal das ideias


Se alimenta no desejo
Que abre os supremos portais
Onde se resvala o medo
Atroz é o peso dos seus cristais

Faces ocultas em libração
Seu próprio coração devora
Feiticeira, forasteira
Évora
Volta para a floresta de Theodor




Alma, aquela que anda
E não cansa de se perder
Que ocupa toda a palma
E tem sede de escorrer

Alma, que aos ouvidos reclama
Quando sufocada ao se contorcer
Pois ela jamais se engana
Quer um dia conhecer

 Ela própria come, se cospe e some
Num ultrajante desconforto
Para mudar de forma agora

É que quando a alma sente fome
Quer pular para fora
Pois, não cabe em um só corpo