A morte vaga pela terra
O véu se dissipou
A vela revela todas as respostas
Nosso oráculo queima
Banhado pela chama ancestral
De um crepúsculo que se foi para longe
Seremos salvos esta noite?
Nossos corações languidos de tanto esperar
Espectros imantados de negrume
Temo que a luz possa nos cegar
A Deusa anciã em murmúrios chora
O sol finalmente se foi
E as noites são frias e longas
O clamor de uma criança não nascida
Que aflita no ventre deita
A natureza se esvai em um gélido suspiro
Anunciando o último fruto que cai, a última colheita
Gwynn Ap Nudd  vem nos arrebatar
Do palor desta funesta estação
E em teus braços retornar 
Para o país de verão

 
Tudo o que do sonho transborda
Oníricos campos de rosas
Quintais vastos e imensos
Vitrais livres, suspensos

Suave brisa branca
Que derrama inocência
Imanta as vestes da criança
 E inebria a consciência

Paisagens inundam a vista
O destino em fitas de cetim
Em uma coreografia mística
No balanço desta sinfonia sem fim
 
Múltiplas matizes pulsam brilhantes
Ameno é o respirar do mundo
O trajeto se faz verdejante
Um sentimento nobre e profundo
 
Sento e ouço
A mais genuína canção
Que faz suave o vento
E acalanta o coração

Um sol iluminado pinta o horizonte
Calmo estou para atravessar a ponte
Sei que não estou atrasado
Ao meu redor nascem lagos e jasmins

Uma água límpida molha os meus passos
Sou levado ao ápice do monte
Onde fadas sussurram para mim
E serafins me beijam defronte
Me trazendo para o caminho
O caminho da fonte





Eu te dei meu coração
Estranho
Minha mão, meu sim, meu chão
Me embriaguei nos teus olhos castanhos

Segui teus rastros
E por fim tu se escondeu
Se desprendeu de mim
Assim cortando laços

Sem despedida, sem avisar
Devastando do caminho a vida
Tirou o encanto de chorar
Feito a fúria de um suicida

Pisoteou minha ferida amarga
Transformou meu coração em cratera
Lançou em mim toda a carga
Fugiu para longe feito uma fera

Estranho mítico monstro
Lavado de sacro banho
Irrisório é teu assombro 
Ordinário é teu tamanho





 
 
 
De perto vejo o poço
Vestido de escuridão
Sua podridão, seu lodo
Onde repouso minha mão 

Em carne viva
Minhas unhas sangram
Pelo veneno deste inalcançável fosso
Correntes em volta do meu pescoço

Neste abismo me contorço de dor
Minha pele descola do osso
Desço até o fundo e vejo
Como é imundo o fundo do poço

Frio e pretensioso
Dotado de mistérios
Com larvas, bocas e olhos
Aos quais eu não ouso tocar

Os seus braços deletérios
Este poço é um inferno
Tão difícil de escapar
Com tantas trancas e ferrolhos
 
Temo me machucar ainda mais
O que eu fui se perdeu
A saída aos poucos se desfaz
E o que me sobra agora é desgaste

Derrisão algoz, Ilusão fugaz, desastre
Nesse atroz poço de ser sempre teu