Entre o açoitar das emoções
Me lancei ao mar Egeu
O céu em trevas vibrações
Meus dons escureceu

Por séculos arrastei-me como soldado
Buscando um triunfo que nunca foi meu
Um monge de mármore desacreditado
Cristalizado nos olhos de um ateu

Colecionei ouro dos tolos
Sozinho, peregrinei por desertos
Joguei ao vento meus tesouros
Quanto mais longe me senti perto

Quando em meu coração deitar a morte
Contabilizando meros louros
Despido estarei perante a sorte
A espera de tribunais vindouros



Nos alicerces do meu corpo
Se firmaram seus instantes
Salpicado de desgostos
De desejos delirantes

E nas voltas deste calendário
que encrava o meu rosto de riscos
O tempo este juiz arbitrário
Me empurra contra precipícios

Uma sinfonia discordante
Durante séculos eu tento entender
Por que o homem que me veste
é sempre mais puro ao entardecer?

Quando o sol se esvai
Me deparo nesta cela
Como podem minhas primaveras
Parecerem tão iguais?

O brilho da lua traz conforto
Iluminando antigos umbrais
Teu arfar me serve de porto
em meio aos escuros temporais