Foto: Gustavo Pellizzon


“O mar quando quebra na praia

É bonito, é bonito”, Val Caymmi


Se hoje eu naufraguei
Foi por ouvir o vento
Talvez tanto acreditei
E acabei me esquecendo

Abandonado de mim
Feito um pescador
Pintando o horizonte sem fim
Salpicado de penar e dor

Sem direção, tão perdido
O sal do meu olhar
Manchou o tecido
Cada sargaço vem afogar

Eu me debruço sob a noite escura
Ouço zumbido de temporal
A lua não ilumina a pele nua
 Que flutua crua e abissal

Contemplo minha mágoa sozinho
E nem toda essa água é capaz de estancar
O templo do meu coração feito de espinho
Que por dentro continua a sangrar

Essa falta que aqui dentro se cria
 A saudade não faz acostumar
Sem alegria...
Nenhum orixá me guia
Meu soluçar...
Vou deixar o fundo do mar levar