Fui iniciado e do saber sou detentor
Apresento meu mentor, Trimegistus
Possuo a transmutação em minhas mãos
Moldado pelo fogo, pela tábua da esmeralda
O selo de salomão
Adorei por missão por onde passar transformar
Barro em ouro, a mágica sustentação
Em silêncio medito
No coração acredito e entôo uma oração
Agora toco o imaculado
Pois todo mistério foi revelado
Pela força que molda o iniciado
No equilibrio dos cinco elementos
Eu sigo meu intento
Disciplina, honra eu austero calcifico 
No rosto trago um sorriso
Sigo sempre feliz pois agora sou
Eterno aprendiz
Odara o sorriso da criança
Odara o vestido que balança
Odara é o som, a luz, a dança

Odara me chama pra dançar
E eu vou sem hesitar
Odara pega na minha mão 
Ela quer festejar

Odara o repique, citara, agogô
Odara é o tambor e a mão a batucar
Jamapala, anel de bamba
Odara é banda que faz a criola sambar

Odara é trimurti, divindade
Shiva, Ganesh, Parvati
A Santissima trindade

Odara vem com a chuva da manhã
Balanço do vento de Iansã
Odara sabedoria e verdade
Salubá Nanã

E eu vazio solto me espalho
Sou alto, baixo, perpendicular
Torto e desigual
Nesta indumentária revestida de vaidade
Sonho, reajo
Me desmonto e desnudo
Em passos largos na sala me perco
Vejo meus pensamentos frágeis 
Calcados em imagens
As mais gigantes paisagens
A despeito do medo
E eu plantado na casa me torno transporte
Cavalo, acendo um cigarro e vejo
Tudo em mim desaguar

No universo da magia
É cobra, dragão
Possui insaciável fome
Engole sem pena sua cauda
No ritual de renovação se rasga
Se torna inicio, fim, ressureição
A antiga casta não te serve mais
Tranforma-se em um único ciclo eterno
De mudança, evolução
Vida, morte, renovação
Bússula das estações do ano
Em transformação alterno
A unidade do primordial do mundo é sustentação
Trasmutando no fogo pedra em ouro
Transformando o principiante ainda tolo 
no saber da civilização
Bicho que se enrola, estica e devora
Sem parar, sem amançar
Para sempre segue a avançar


Ao ouvir seu chamado, me deixei ser moldado
Eu danço para esquecer, modificar, transcender
Para queimar em fogo o meu passado
Vejo o meu interior ser transmutado
O peito arde em brasa, me sinto ter asas
E me ponho a voar
Em lentas voltas me vejo modificar
Me desnudo em pés descalços
Tranquilo, pacato
Sírio, terra, nous a se equilibrar
Canalizo o infinito, estou suspenso no ar
Pela força da imaginação, inspiro
Sou reflexo, espelho
Recebo e devolvo tudo ao seu lugar
Sou o centro de tudo
As forças cósmicas modifico
Consigo vislumbrar
Neste rito eu medito
Meu coração dançante puro está
Darshan perccebi ao girar
Estou no lugar, onde humano e divino 
Se fundem ao se encontrar
Continuo minha dança
girando sem me importar

Eu presumi que tinha tudo resolvido
Na palma da minha mão
E que a falta tinha sucumbido
Pensei que a raiva tinha desistido de mim
Acreditei que ela tinha se aniquilado 
Em uma garrafa de gin
Que engulo, forte, seco
Eu a ela me agarro
Eu acreditei com certa veemência
Reflito e paro
Agora a afogo sem pena
Disseco e depois lentamente trago
Vejo ela borbuhando, fulmegando
Entre meus olhos torna-se pó
Nada mais sinto, estou agora no limbo
Vazio, sem gozo ou regozijo me esqueço
E no limbo do nada sentir
Seco feneço


Em uma regra adoto a verdade

Sem questionar sua moral, origem ou finalidade

E somos todos produtos desta impura oligarquia

de usura manipulativa e sombria

E a dois mil anos compramos um molde de perfeição para usar

Nos tornamos imortais, eternos

Adotamos a postura de um ser elegante, extra-humano para nos representar

Esquecemos quem somos e pesamos que tudo a nossa volta se coloca a girar

É tudo asco, um fiasco

Vazio, fuleiro, desproporcional

Uma realidade inventada para nossa vida sustentar

O ser que chega ao extremo, consciente da sua atitude

Ninguém aqui é ingênuo

Sabe a proporção da sua enfermidade

Levado pela sua fragilidade é gênio, eterno, certo

Guiado pela hostlidade se torna etéreo, completo

Mata, destroi, confunde e deturpa

Sem o menor remorso ou culpa

O homem dotado de perfeição vira lobo e destrói a sua própria construção

Assim continuamos, perdidos e insanos 

Um ser amoral, vivendo os seus dias em um universo, comprado, inverso

Em um espaço unilateral

 sem açucar, sem sal

Ao qual nos tornamos objetos

Imagético, tridimensional 

Ostentamos o vazio do que somos

Neste profundo holograma existencial

Exaurido pelo ciclo vicioso

Reclamo

Quero sair

Ineventar a minha própria injúria

Ser o porvir

E eu homem que sou enxergo

O véu que me cobria a cara

Que por tanto tempo me cegou

Sendo eu hoje o que sou

Me aceito, espalho e ajeito

Confortavelmente no meu peito

O meu corpo, minha beleza e defeito

São meus por direito

Virtudes, condutas, disturbios

Eu os controlo e escuto

E ao que tenho me agarro

Sem a ilusão da morte, da sorte

Eu hoje homem sou forte

Não me resigno, nem consterno

Eu super homem sou humano de ferro

Minha alma se rasgou em um profundo corte

Assim me alarguei, me tornei imenso

E tudo em mim cabe, eu as aceito e sustento

Detenho a minha verdade

e sem inflexibilidade

Sou vontade, sou propenso

Ecce Homo


E se eu for verdade

O que de fato me cabe?

vou esperar

Ser ou não ser

Um homem ou um covarde

Um bruxo ou um padre

Eu já não sei

Talvez eu seja um bicho solto

Menino, lobo, louco

Quem sabe eu sou Hermético

Filosófico, Católico

Ou um completo cético

Uma poça de lama

Um rabisco, uma tocha

Creio que seja chama

A ferida que reclama

O sopro que alenta

Um torpor

Eu posso ser a meretriz, o assassino

Não eu sou ator, meu ego

Meu avô, o cego

Sou o sangue que corre

O cão que não morde

Eu sou o Mundo

Oponente, fraco, fundo

Dos canos o escremento

Na construção eu sou cimento

O mais terrivel veneno

Sou vida, morte, intento

Na verdade o que sou de fato

Pensamento
Num momento qualquer

Em lampejo me lembro

Naquela tarde clara de dezembro

Te encontrei

Como uma visita inesperada te olhei

E deixei entrar

Senti sua existência

Sua presença me deixou calmo

Salutar

Perguntou-me se estava bem

Falei que sim

Ela disse que ora e pensa em mim

Pacifico e terno eu a abraço

Sinto sua paz, seu alento, cansaço

Protegido alí em seus braços estava

Suas mãos minha cabeça afagava

em um gesto de carinho sincero

Ela vem e me beija a testa

Me olha sem vaidade, sem promessa

Estavamos tão vivos, e sem esperar

Ela se vai

Eu até poderia ter insistido 

Aqui comigo pode ficar

Não seria indiferente

Vou lembrar daquele abraço para sempre

Completamente sanado é o meu despertar







E eu me ponho mais uma vez aqui para falar de morte

E o que será a morte?

Uma completa falta de sorte ou um canto a se libertar?

Longe de tudo que é orgânico

Pois já sei morte que morremos ao nascer

Cada dia mais um pouco

Não sei se és mentira ou engano

O étereo ou o profano

Mas quem sou eu para tentar entender o que sois morte?

Sou apenas um menino, um vadio

Mas de ti não tenho mágoa nem lamento

Não te tenho como mal ou inimiga

Morte eu não quero te renegar

Eu sei que és solta como o ar

Que as coisas vem discerrar

Mas não eu

És bem vinda morte

Você faz parte da minha vida

Como posso ir contra ti amiga?

Não tenho mais medo

Me mostra teus dentes morte

és um cantar ou esbravejar?

Percebeu morte?

Que não tens tanto poder assim

Posso muito bem agora te matar, comer e aforgar dentro de mim

E o que sobra de ti?

Então morte vamos fazer as pazes

Quero te ter bem, ser seu amigo

Não vou mais brigar contigo nem te por de castigo

Ah se eu pudesse beijaria seus cabelos

Te lavaria a cara e te abraçaria, seguro e terno

Queria ouvir seus medos e mágoas

Eu sei que um dia vou te deixar entrar e deitar

Mas saiba que vou estar cansado, seco sabe?

Sem mal humor vou te ouvir cantar

E quando pela janela vieres me encontrar

Estarei consciente e calmo

Não sei de onde virás

Se da brisa fria do sul ou do calor do norte

E sabe amiga, talvez isso pouco importe

Viver transcende a illusão de ti,  morte









Sou uma semente, fina, singela

Um certo poder em mim habita, esbraveja, acredita

O óleo da vida, em mim floreia e frutifica

Explendorosas rosas em galhos

Colorindo cada resquício com aquarela

Não tenho nada haver com a física quantica, quimica moderna ou tubos de ensaio

E neste emaranhado ao qual chamo vida

No meio austero, ostento uma cicatriz

lembrança de uma antiga ferida

Ao longe eu paro, pondero, reparo

Nada de mim alí restou

Nem dor, nem nada

E eu aqui do alto em mim observo

Pacifico e calmo contemplo

Em minhas mãos eu tenho a vida em galhos

Uns fortes, outros fracos

Alguns se partem e sobre o chão se espalham

Outros crescem cada vez mais altos

E a cada galho que em mim se firma

A presença de vida se confirma

Observo estes galhos como veias e cadeias de pensamento

Algumas soltas, outros completos

Parado medito, eu apenas sinto o vento

Assim percebo que sou imenso, profundo

Mas também raso, carcunda

E eu aqui estático, tranquilo ao me perceber me tornei árvore

Oponente, robusta, intrépida

Fecunda