Enterramos os nossos limites
Por que me chamas?
É hora de afiar os teus fios,
No limiar das minhas navalhas,
No presságio dos meus ritos,
Dorme um monstro colossal.
No frio da tua cama
Que mal me chama
Que não me espanta mais.
O medo é um retrocesso,
Um passo em falso.
Um passeio nebuloso,
 onde estamos adormecidos a tanto tempo,
Imputados ao fracasso.
E as horas mudam,
 Já não acompanham o desenvolvimento das nossas células,
Que destroem-se umas as outras,
No contra-passo do que é previsível,
Neste lume invisível, rumo ao nada
As nossas ânsias atrofiadas,
Vestem saias ao avesso.
Estes ideiais que se desintegram rumo ao limbo.
Roda a dança da ilusão,
Na negação da realidade,
E só nos afasta...
Na monera idiossincrática da tua farsa,
O monstro se alastra,
 fundamenta-se,
 e alimenta o mito,
mas quando chega perto se disfarça.
A tua teia não sufoca mais,
Nem o cheiro do teu sexo ordinário,
Teu trajeto é um deserto dissociado.
Não implore mais.




Nos impulsos de minh'alma
Correntes de ar se formam lisonjeiras
Que sobre meu céu delicada se espalma
Mas não perpassa as fronteiras

Este invólucro que se estende de mim
Desaguam em rios que tua sede mata
E sem piedade consome até o fim
Até os sulcos do meu rosto não restarem nada

Tu, que tardas a me beijar
Tento amansar a força do tempo
Lembro teu perfume, entardecer, campo de videiras

Fecho os olhos e te vejo me tragar
Eu, que hoje nada mais sou que vento
Restos de um mundo,  poeira de estrelas