Eu de fora me vendo
Pálido e sujo
Me achando e perdendo
Aprendendo mais uma vez a respirar
Sem saber o caminho certo
Ou qual hora vou chegar
Talvez divagar seja minha sina
Solto sem correntes
Feito bicho eu me espalho
Cedendo a caprichos nas esquinas
Bebendo dessa cachaça barata
Me entorpecendo com as pontas dos teus cigarros
Que aos poucos me corta por dentro
E dentre os ferimentos 
Procuro em um voraz intento voltar
Ah se eu soubesse me amar
Queria a mim mesmo devorar
Se eu pudesse engoliria os meus braços
Cotovelos, pernas e baço
E sem pena roeria os ossos dos meus pés cansados
Assim sem pressa vomitaria os pedaços
Saboreando todos os meus complexos e medos
E sem segredos me reduziria a pó
Só assim afrouxaria o nó
Que tanto aperta os meus dedos
E quando tudo eu tivesse digerido
Atearia fogo e seria consumido
Tenho sede de me construir de novo
De me amar, me merecer
E depois que cada célula eu tenha modificado e se erguido
Poderei perceber ao redor, sentir e ver
Como eu tenho insaciável fome de me pertencer

E quando eu vi seus olhos oblíquos
Se distendendo em continuas lágrimas
Eu me deixei nelas afogar
Tentei nadar até a margem
Mas em cada fração de segundo
Fui cego pela tua imagem
Sem nenhum afago fui deixado pra trás
Minha alma perdida em algum cais
De onde eu pulo e me lanço ao fundo
Que já nem sei se quero voltar mais
E neste profundo mar
Se eu pudesse me transfiguraria
Cada célula do meu corpo morreria fria
Só assim evitaria o peso de me enxergar
Sem ufania percebo o preço que tenho que pagar
Nem imaginei que este dia ia chegar
Se eu soubesse como evitar
Jamais tentaria
Quando você dança lança lâmina que desmancha minhas íris
Quando você arde inunda minhas veias com teus detritos
Me deixando fraco e infeliz
Agora ninguém pode cessar o som dos meus gritos
Pois eu sei que ainda moro dentro dos teus tristes olhos hostis


Eu queria algo bom para poder partir
Algo bonito por ser simples
Se pudesse me levaria para Órion e lá ficaria
Assim me telestransportaria
Só sentiria o frio
Me tornaria gelo e me purificaria

Mas toda vez que eu me ergo vejo você caindo aos pedaços
Eu sei que nada vai ocupar os espaços
Tenho motivos para acreditar que com a flecha de Artemis você me acertaria
E sou eu quem estou caindo por todo este tempo descalço
Só me resto, sem magia
Neste encalço talvez um dia eu volte

Estou deixando esta babilônia cada vez mais forte
Quero estar intacto, no alto vendo a lona esmorecer
Lá do alto tudo é tão irrelevante que até a sorte fiz esquecer
Vou mas não tão rápido
Pois o mundo rui aqui em baixo

Não sou eu que vou quebrar em pedaços
em fenecer ou ressecar
Todos os cortes no meu corpo se tornaram de ouro e aço
Enquanto para outra Órion não embarcar é aqui que eu devo estar
Entre a lama eu ando e o mundo se move ao redor

Não deixe eles apagarem a luz
Nem te fazer menor
Agora não preciso ir pra Órion
Enxergamos através do sol
De mãos dadas nesta egrégora somos fogo
Consumindo nossos sonhos em uma unidade só